
Diário
de um
Solitário Vampiro
Solitário vampiro
Em
Amor de filhos
Andei sozinho nas noites, esperando o dia em que reviveria o meu amor em sua próxima existência. No entanto, nem toda a minha existência foi dessa maneira. Quando era um feiticeiro, era cercado pelos moradores da minha vila. No entanto, quando me tornei o que sou, precisei-me isolar em meu castelo, pois as pessoas não estavam preparadas para ver minha verdadeira forma.
Relatarei as histórias dos meus dois filhos. Embora seja verdade que um vampiro não pode conceber um descendente, é preciso considerar que isso não significa que eles não possam ter um filho; é possível criar uma criança, mesmo que ela não seja da sua linhagem. Certa ocasião, encontrava-me numa fortaleza quando, ao abrir a porta, deparei-me com uma criança esguia, frágil e encharcada, tremendo de frio, me olhando com profundo medo e sofrimento, como se eu fosse uma aberração. Ele sussurra sem hesitar: “Tenho fome e frio. Por favor, me ajude.” Ao terminar de falar, desmaiou. Rapidamente o segurei nos braços e o levei para um dos cômodos, deitei-o e, nos próximos quatro dias, o atendi.
No quinto dia, aquele rapaz abandonou o seu cômodo e foi até onde eu estava, com um olhar mais calmo, demonstrando sua verdadeira natureza humana, e, humildemente, me abraçou, dizendo: “Agradeço por tudo… Sem emitir um juízo de valor sobre o que percebia a meu respeito, perguntei-lhe, com rudeza: “Você tem consciência de quem sou eu? Não tem medo de mim… Ele, com um sorriso, respondeu: “Por que temeria o senhor? “O senhor foi o responsável por mim…” Aquelas palavras foram como um golpe para mim, fazendo-me ajoelhar e chorar na frente de um ser que nunca pensei que compreendesse a minha verdadeira essência. Sem titubear, ele me abraçou e disse que seria muito grato se tivesse um pai como eu. Nesse instante, tomei a decisão de cuidar dele como se fosse meu filho.
A partir daquele dia, passei a ensiná-lo tudo o que sabia sobre a vida, até que ele tivesse força suficiente para prosseguir. Digo com orgulho que seu nome e a suas conquistas são conhecidos mundialmente. Sultão Alexi Marek, também apelidado de: O Soberano dos Morcegos e das Sombras. Ele é um dos Cavaleiros que vêm com as nuvens de chuva, o som dos cascos no céu. Quando atingiu a plena maturidade, aos 25 anos, no seu auge, pediu-me para o deixar eterno e, é claro, não poderia negar a um filho tão perfeito.
Um dia, estava nos meus aposentos quando meu filho, com sua sutileza de sempre, quase arrancando a porta a cada batida, veio me dizer que uma mulher apareceu em nosso castelo para pedir ajuda a um velho amigo. Tão longo fui até lá e de repente me deparo com uma pessoa que não a havia visto há muito tempo: Maud Belmont, também conhecida em algumas partes do mundo como A Fome da Sibéria. Ela é uma feiticeira de magia negra e antiga que flutuava livremente acima de todas as outras. Aparentemente fraca e sem forças para falar, ela puxou-me e sussurrou: “Cuidar da minha filha como se fosse sua, pois não tenho mais forças para lidar com este mundo.” Ela desapareceu em uma densa névoa negra, deixando apenas uma menina de pele branca como a neve, olhos esverdeados e cabelo ruivo. Sentimentos de ódio e medo são visíveis em seus olhos. Além disso, mais uma vez me vi no papel de responsável por aquele ser que não tem a menor ideia do que é, pois, a sua mãe é uma poderosa bruxa.
Ensinei a minha filha tudo que sei, com Alexi Marek. Somos um trio poderoso, e assim como Alexi, tenho orgulho de minha filha e de seu nome: perola Belmont, a assombração da Sibéria que se alimenta das criaturas evitadas pelos homens.
Tenho filhos pelo mundo afora que me ajudam a encontrá-la em qualquer encarnação. Com o amor incondicional deles, deposito mais confiança na humanidade. Se precisar de ajuda, pode me procurar que irei acolhê-lo(a) da mesma forma que acolhi os meus filhos…
Sultão Alexi Marek (Jose Carlos Gabriel)
Maud Belmont (Mara Santos)
Perola Belmont (Maria Eduarda)
Solitário Vampiro
Em
Amor e suas diferenças
Tive outros amores, mas ninguém me assombrou depois de 130 anos, como ela fez. Durante a minha visita ao meu oráculo, ela disse que tivemos um amor, mas que devido às nossas diferenças não possam continuar. Mas ela disse que, para o amor verdadeiro, nada é impossível — só depende dos dois conversarem e relembrarem o nosso amor.
Hoje vou relatar a história de uma mulher bonita, com longos cabelos prateados e uma face angelical. Contudo, em certos instantes, a sua expressão demoníaca revelava o desejo pelo meu corpo. Caminhava nas ruas, pensando em minha vida, quando o meu instinto percebeu perigo e entrei em modo de batalha. Vampiros temos muitos inimigos e todos eles nos querem mortos, mas só os lobisomens são capazes de nos matar. É um ser lendário, que se transforma em lobo ou algo parecido, nas noites de lua cheia. Então preparei-me para a luta e meus instintos diziam haver um bem perto de mim. Apesar de ser uma noite clara e eu ter uma boa visão, não conseguia enxergar nada além de uma mulher bonita sentada em um banco, chorando. Então me aproximei cautelosamente, pois meus instintos diziam que ainda havia perigo.
Ao me aproximar, ela indagou com a voz trêmula — Afaste-se, mantenha-se longe de mim, se se aproximar mais, terei que te matar… pensei que ela não tinha percebido que eu era um vampiro, então falei que se ela quisesse-me matar, que entrasse na fila. Ela riu e eu perguntei o que tinha de tão engraçado. Ela disse que eu era engraçado para um vampiro e que tinha dois monstros aqui: um sanguessuga e uma matadora de sanguessugas. Disse para eu ir embora se eu nada tinha para fazer. Sinto uma presença familiar, um cheiro de cão sujo, e, no final, surge a figura do vira-lata com sua voz rouca e risada estridente, dizendo: - Ethel, é isso com o que você andou se envolvendo, parabéns, infelizmente, esse monstro eu já conheço. Logo antes de ele terminar de falar, eu descobri o nome dela por meio deste miserável. Respondi-lhe: a nossa última conversa não foi o bastante para te deixar em silêncio. Além da sua mãe, quem mais devo matar agora? E, antes que eu pudesse terminar minhas palavras, ele se aproximou de mim com toda a força, apenas com a intenção de me matar.
Após horas lutando, eu derrotei-o com um golpe. Senti a mão de Ethel no meu ombro, ela disse ser a hora de voltar para o grupo. Não entendendo o que estava acontecendo, soltei-o como se fosse um saco de batatas. Ela o ajudou a levantar e o levou embora. Enquanto seguia seu caminho, olhava para trás, como se não quisesse ir, mas estava sendo obrigada a fazê-lo pelo grupo.
Passei a não ter notícias dela e a procurar por todos os lados, até em lugares que não me permitiam estar, só para ter algo para me apegar. Questionei-me porque me importar com ela, já que somos de espécies diferentes, mas continuei a procurá-la. Um dia, em meu castelo, senti a presença de um humano que não apresentava perigo. Recebi-o cordialmente e havia uma carta para mim.
“Estimado Zeus, sou Ethel, com as garras cinzentas. Venho por meio do meu humano de estimação para te entregar esta carta e dizer que me afastei do meu bando. Gostaria de nos encontrarmos em meus aposentos, na Rua Rei Voo, número 400, às 8 da noite, para podermos conversar…
Observação. Exerça cautela, pois é uma área onde habitamos em grande número…
Atenciosamente, Ethel “
Sem pensar nas consequências, fui até ela. Ao vê-la, senti uma sensação agradável. Apesar de ser o meu pior inimigo e de todos os vampiros da história, naquele momento só queria abraçá-la como nunca tinha feito contigo.
E ali começava o que seria impossível em nossas existências: um romance entre dois seres, completamente distantes e com estilos de vida divergentes, que nunca poderiam se cruzar em uma lua cheia. Mas ela sabia disso e, ainda assim, estava disposta a arriscar, mesmo nos piores momentos.
Nesse momento, começava um grande amor que romperia barreiras. Eu sentia-me mais forte ao lado dela e, ao que parece, ela também se sentia assim. Juntos, éramos invencíveis. Ah, o amor! O amor não tínhamos que nos segurar com nossas forças descomunais, pois nada acontecia com nossos corpos nus, era um amor violento, cheio de puxões de cabelo, mordidas, garras afiadas cravadas em nossos corpos, orgasmos de memoráveis. Os locais sem qualquer pudor, como igrejas, casas abandonadas, ruas desertas, na carruagem em público, não importava o lugar. Mas precisava ser com ela e não com mais ninguém. Tivemos um amor apaixonado, horas de conversas, beijos românticos — o nosso amor era tão grande que até mesmo William Shakespeare invejava.
Vivemos por 60 anos lado a lado e sempre com a mesma paixão. No entanto, como nem tudo é perfeito, tivemos os nossos momentos de instinto selvagem, de descontrole de nossas naturezas. Eu amava-a como não havia amado meu primeiro amor. Às vezes eu tinha que caçar para me sustentar e ela não aceitava. Isso deixou marcas em nosso amor. Sei que fiz o que tinha que fazer, mas ela achava que eu estava equivocado, pois era minha essência ser assim. Ela podia sair durante o dia para ver coisas que eu nunca poderia ver, como o nascer ou o pôr do sol. Tinha que me dividir para vê-la e caçar.
Certa noite, após as minhas caminhadas, a avistei ao longe, junto a outro homem, em uma taverna. Perdi o controle ao ver aquilo, mas, quando me aproximei, o meu humor acalmou-se e então pude entrar na conversa como se nada tivesse ocorrido. Ela e o humano arregalaram os olhos. Se soubesse que ela era uma fera, não se meteria, pois ela só estava esperando para despedaçá-lo até as últimas entranhas de seu corpo frágil. Levei-a para casa, desculpando-se pelo caminho, e beijamo-nos, nos abraçamos e agarramo-nos como sempre. Parecia que não existia mais brigas ou desentendimentos, somente duas pessoas que se amam.
Descobri que teve outro encontro com aquele humano e brigamos de novo.
Eu pegava-a na fábrica de chocolate onde trabalhava à noite, e lembro termos boas memórias ali, principalmente no estoque. Ela conseguiu um emprego melhor na prefeitura, mas brigávamos muito, até que um dia eu cansado das brigas, resolvi ir embora, pensando que ela já não me amava. Fiquei em meu covil sem sair por dias, até que um dia recebi uma carta de uma pessoa próxima a ela, querendo-me encontrar para conversar sobre a Ethel.
Ao chegar ao local, a pessoa se aproximou e disse que Ethel estava doente e precisava-me ver para se desculpar pelo mal que me havia causado. Prometi a essa pessoa que a iria visitar. Mas as nossas desavenças me deixaram com feridas que nunca cicatrizaram e sei que, naquele momento em que a vi, não fui justo em meu julgamento e isso machucou-me por dentro em diversos lugares, de tal forma que nem me lembro mais onde estão os pedaços. Então a afastei de mim, amando-a muitíssimo, e com o decorrer do tempo descobri que ela voltou para o seu grupo e acabei caminhando sozinho outra vez, mas o que aconteceu depois da Ethel na minha vida fica para outra narrativa.
Mas queria-lhe dizer, Ethel, que me perdoe. Queria que soubesse que, onde quer que esteja, sempre estarei aqui para protegê-la e observá-la. De alguma forma, o meu amor por você permaneceu forte por todo esse tempo e, agora, os meus sentimentos estão ainda mais intensos.
As nossas diferenças não são importantes, pois o nosso amor é mais forte.
Beijo Zeus da Rússia
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